Ciência nada mais é que a tentativa racional (geralmente) de descobrir a verdade – qualquer que seja esta verdade. E se alguém concorda que a verdade é uma coisa boa, portanto, a ciência é uma coisa boa. Nem sempre agradável – mas boa.
E você? Concorda?
Caso concorde, caro leitor, convido-lhe a assumir você também o fardo da busca e da aceitação da verdade. E usando o pouco que ainda se sabe sobre ela, escrutinar seus nós, unir suas pontas, e humildemente dar nossa pequena contribuição ao trabalho de tecê-la.
Afinal, nossa vida é um mero espasmo, e vem gente atrás – que depende do bom termo de nosso trabalho para começar o seu.
Todo ser humano é, por natureza, um cientista. Há os bondosos, os perversos, os incansáveis, os relapsos, os competentes, os estúpidos, os profissionais (alguns), os amadores (muitos mais), e até – pasme! – os anti-cientistas.
“Porcaria nenhuma!” – talvez você pense. “Cientistas são aqueles sujeitos com aventais brancos, que ficam horas lá, no laboratório, tentando fazer alguma descoberta ‘interessante’!”. Pois eu lhe peço, amigo leitor: reconsidere. Aqueles lá são apenas uma fração da honrada fração dos profissionais, popularizados pelos meios de informação de massa como um estereótipo do que um cientista (profissional) deveria ser. (Não sem razão: aqueles sujeitos livraram nossa cara de quase todas as enfermidades que nos afligiam – e continuam livrando).
Ocorre que cientista é também o lavrador, que matuta como se livra da praga daquele ano. O empresário, que tenta descobrir como se livra da falência – ou dos concorrentes. É o artista, no subjetivo mergulho no mar das almas, em busca do sublime toque de sentimento que lhe consagre. É a sua avó, na cozinha, acertando a mão naquele biscoito que você ama. Enfim: todo aquele cujo modo de vida dependa da verdade.
Não usam o método científico de Descartes? Está bem, vá lá, é bem provável que sua sofisticação não ultrapasse o conhecimento empírico, talvez nem mesmo o puro e simples sentimento (e lá existe razão sem emoção, ou vice-versa?). Mas buscam uma verdade. Talvez não tão crucial quanto a origem do universo. Mas talvez importante para coisas muito importantes – como matar sua fome, manter seu emprego… e satisfazer seu paladar, oras!
Portanto, amigos, somos todos cientistas. E buscamos a verdade. Mesmo que doa. Não adianta: é cachaça†, amigo, é vício – herdado de um primata africano qualquer.
Se iremos colocá-la à luz ou se iremos ocultá-la, constrangidos, é outra história.
*A tradução é tão falsa quanto uma nota de 3,00 – seja qual for a moeda. Mas não se sinta culpado: nosso currículo escolar omitiu o latim, ou a língua portuguesa. Ou ambos.
†Cachaça é uma bebida de teor (muito) alcoólico, fabricada cá por estas paragens, a partir de um mato gigante e doce, a cana-de-açúcar. Aos que porventura lhe provarem, recomenda-se (muita) moderação.